domingo, 6 de março de 2011

O MEU GALHARDETE

O MEU GALHARDETE

Aprecio galhardetes. Sou mesmo um apaixonado por galhardetes. Dum modo geral, são muito requintados e cada qual representando ou querendo dizer qualquer coisa. Mais ou menos alongados; mais ou menos estreitos; ou compridos; há-os de muitas formas e em todos os estados de conservação. Farpeados no alto dos mastros dos navios para sinalização ou adorno. Rectangulares colocados em mastros mais ou menos aprimorados e as miniaturas assentes numa base dum modo geral redonda, ou triangulares isósceles cujo lado mais pequeno, previamente orlado, remata numa haste cromada, com um cordão cujas pontas foram atadas nos seus topos deixando folga suficiente para que por aí se possam pendurar, fazendo um desenho triangular oposto ao do galhardete que cai, com o vértice mais agudo, na perpendicular.
Há os que ocasionalmente enfeitam as festas populares, também triangulares isósceles e feitos de papel de diversas cores, pendurados em fila a extensos cordéis que por sua vez se colocam em altura atravessando ruas ou largos onde porventura se realizam os arraiais. Estes galhardetes, pela sua fragilidade, têm uma vida curta e por isso, quando daí a dias acaba a festa, deixam de ter serventia. No entanto, pelo seu cariz popular, têm o meu apreço especial. Estes galhardetes, dum modo geral feitos pelos moradores da zona onde se organiza a festa, querem dizer com isso que os estão oferecendo ao seu semelhante só pelo prazer da boa convivência.    
Tenho visto galhardetes em museus, alguns já muito desgastados, lembrando batalhas travadas em tempos. Vejo-os guardados em casa dos seus proprietários que os ganharam com talento. Estes galhardetes são confeccionados em casas especializadas e por isso ficam ali muito bem, guardados em vitrinas quase sempre de muito bom gosto.
Há também galhardetes feitos não se sabe bem onde, baratos, de fraca confecção e muito procurados por pessoas que os usam depois para troca, por falta de arte para os ganharem por mérito e lá vão ufanos colocar nas suas vitrinas as trocas recebidas. Não é preciso ser muito entendido em galhardetes para se notar de imediato que estes são contrafeitos. Quando a troca é feita entre pessoas zangadas, os galhardetes nem chegam a ser colocados nas vitrinas, pois com a ira com que são trocados ficam num tal estado, que já nada se aproveita. Quando a troca é feita entre amigos e se for pela posse num lugar de destaque que dê um bom ordenado mais reforma ao fim de pouco tempo e outras alcavalas, então é que é vê-los apressados a colocar os galhardetes nas suas vitrinas. Só que estes galhardetes, dada a sua fraca qualidade, não se podem guardar em vitrinas por muito tempo porque se esfumam e os seus proprietários também um dia irão fazer-lhes companhia não deixando saudades a ninguém.
Eu também tenho um galhardete. Só que não é dos que se penduram num mastro, não fica bem numa base, nem é daqueles em forma de triângulo que se penduram por um cordão. Também não é como aqueles que se colocam no alto dos mastros dos navios nem dos que servem para enfeitar os arraiais. E de certeza também não irá fazer parte duma colecção de museu. Esse galhardete foi-me oferecido um dia, em Abril.
João do Carmo
12/7/2010

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