segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

DIVAGANDO

Ler
Para quem aprendeu, o acto de ler é intuitivo.
Leio tudo o que está à minha volta.
São os nomes das ruas, dos estabelecimentos, as asneiras escritas nas paredes, o destino dos transportes, os preços dos artigos nas feiras, as ementas dos tascos e restaurantes, as letras garrafais dos jornais, os nomes das povoações, os nomes dos desportistas nas camisolas dos seus equipamentos, leio a alegria e leio a tristeza no semblante das pessoas.
Leio um livro, um jornal ou uma revista, um texto e nas entrelinhas, um recado ou uma mensagem.
Leio o peso, o volume, a quantidade, a força, a altura, a espessura ou a pressão, um desenho ou um esquema, um mapa, um gráfico, uma escala musical, um gesto, leio Morse, leio Braille e leio o Nónio para uma medida de precisão. Leio os sinais de trânsito e navegação, a bússola, o astrolábio ou o sextante. Leio a minha vez numa fila de atendimento e o meu lugar numa sala de espectáculos. Leio uma fotografia, uma escritura, as cores e o que escrevo. Leio a sina, mesmo precisando de traquejo.
Leio em silêncio, em surdina, em voz alta ou cantando. Lendo em silêncio, não se nota o que estou fazendo. Lendo em surdina, quererão ouvir e farão questão que leia mais alto. Se leio em vos alta e estou só, quem ocasionalmente me ouça irá dizer que não estou bem de saúde e se leio cantando, tenho que reunir determinados requisitos de ordem musical para que tenha audiência.
Enfim: uma azáfama constante, podendo passar todos os dias pelos meus olhos umas centenas largas de sinais que se lêem e que, curiosamente, não me cansa.
No fim de contas, quase tudo, ou até mesmo tudo, pode ser lido.
O ler é tão importante, que até se percebeu a necessidade de se criarem escolas onde isso se aprende, com auxílio de mestres preparados e com vocação para tal.
                                                                                                                                                                   
                                                                                                                                                                   João do Carmo

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