segunda-feira, 15 de outubro de 2012



A LINHA

Linha é um traço contínuo sem espessura determinada podendo ser reta, curva, quebrada ou mesmo mista.
Também pode ser uma equipa de jogadores, um fio metálico, de algodão, de seda, de estopa, um barbante, um atilho, um baraço, um cordel, um cordão, uma guita.
Podemos fazer parte da linha, fazer trinta por uma linha, estar em linha, perder a linha, manter a linha, atravessar a linha, enfiar a linha, dar um nó na linha, coser com linha, atar com linha, marchar em linha, ter em linha de conta, saber por linhas de comunicação, por linhas travessas, escrever na linha ou entre linhas e até há quem escreva direito por linhas tortas e quem goste de estar na linha da frente.
Há a linha de água dos navios, a linha de montagem numa fábrica, a linha por onde circulam os comboios e a linha do horizonte.
Numa batalha estamos em linha de invasão ou de retirada. Projeta-se a linha de combate metralha-se ou bombardeia-se em linha.
Há a linha de parentesco, de respeito, da vida e cada um sabe das linhas com que se cose.

João do Carmo


ÀS VOLTAS COM A LINHA
                                                                                                 
Faz a rede bem feitinha
Pró pescador exigente
Se acaso te faltar linha
Faltará peixe prá gente

Vou à pesca com anzol
Na ponta deste barbante
Vou pró cais ó pôr-do-sol
E voltarei ó levante

Dá-lhe guita! Dá-lhe guita!
Tua estrela vai subir
É a estrela mais bonita
Sustem-na pra não cair

Vou lançar o meu pião
Com cordão de lançador
Girará na minha mão
E darto-hei, meu amor

O baraço que fizeste
Faz girar o meu pião
E o beijo que me deste
Alegrou meu coração

Linha d’água do batel
Por mim traçada a rigor
Usei um simples cordel
Inspirado no amor

João do Carmo

ABRIL, sempre!

Para quem viveu antes de Abril
E não esqueceu a ditadura
Lembra esse tempo como vil
E o bufo espreitando, servil
Denunciando quem lutava com bravura

Um tempo que não voltará nunca mais
Assim os bravos sejam respeitados
Nem mandantes nem outros que tais
Povo livre de escolheres para onde vais
E sempre ao lado dos deserdados

Repressão para sempre banida
Querer inquebrantável decidido
Alegria pelo alvor duma nova vida
Medo, palavra do dicionário banida
E vontade de nunca mais ser vencido

João do Carmo

domingo, 6 de maio de 2012


Há 70 Anos
    
Estamos em meados do ano de 1942.
A Segunda Grande Guerra Mundial que começou em Setembro de 1939 está no auge. Em aliança, alemães, italianos e japoneses, formam o chamado “Eixo” que representa o Nazi-fascismo. As tropas do exército alemão estão agora em força empenhadas na ocupação da União Soviética e já ocuparam parte dos países da Europa. A Espanha, com a sua liberdade esmagada em 1939, está arrasada por uma revolução brutal que deu lugar à ditadura de Franco.
Também por cá temos idêntico regime chefiado por Salazar. Está organizada a Polícia Política com seus bufos e lambe botas. A Legião Portuguesa e a Mocidade Portuguesa, formadas obrigatoriamente por funcionários públicos e estudantes, são organizações para militares. A par disto, também alguns patrões menos escrupulosos e os grandes monopolistas fazem questão em que os seus empregados façam parte de alguma destas organizações. Vivemos num verdadeiro clima de ditadura que teima em perseguir quem se lhe oponha. As pessoas não se abrem em opiniões que não estejam em sintonia com a situação vigente, sabendo que ali ao seu lado pode estar um bufo que o irá denunciar à Polícia de Vigilância e Defesa do Estado “PVDE”. Isto acontece tanto no seu local de trabalho como no café ou na taberna que habitualmente frequenta, podendo o bufo ser tanto o empregado que o serve, como o engraxador que está a limpar-lhe os sapatos, o cauteleiro que vem vender-lhe uma cautela para a lotaria, ou alguém que ali está na mesa ao lado ou, até mesmo, um vizinho que se diz nosso amigo.
Impera o analfabetismo. Vive-se numa grande pobreza e é normal verem-se pessoas descalças nas ruas, muitas pedindo esmola, assim como cegos tocando violino, bandolim, saxofone ou outro instrumento, com a caixa das esmolas pendurada ao pescoço por uma correia sendo por vezes acompanhados por alguém que canta uma cantiga que relata uma desgraça acontecida recentemente e depois vende, a quem por ali passa, os versos impressos num folheto. Também há os pedintes já duma certa idade e doentes, que aparecem a um dia fixo da semana pedindo de porta em porta e que se tornam às vezes um pouco íntimos de quem os recebe e que deixam alguma saudade no dia em que, para sempre, deixam de aparecer.
Muitas empresas fabris não têm refeitórios para todos os operários e à hora do almoço vêem-se estes a comer na rua sentados nos passeios ou num sítio mais recatado, muitas vezes acompanhados das suas companheiras ou de outro familiar, talvez uma filha, que lhes vai levar o almoço. Também há quem vá à taberna comer o almoço que traz de casa a troco da compra do vinho muitas vezes “baptizado”, comprado ao taberneiro.
O fato de ganga para o trabalho é quase sempre usado todo o dia, pois o fatinho melhor está guardado para o domingo.
Qualquer patrão pode despedir um empregado quando entender sem que ao menos tenha que lhe dar um aviso prévio.
Os melhores empregos são conseguidos nos Bancos ou Companhias de Seguros. Também os empregos públicos são preferidos por serem mais estáveis e pela reforma ao fim duma vida de trabalho, mas com o inconveniente de ter que se fazer parte da Legião Portuguesa, o que por vezes é motivo de recusa por parte dos trabalhadores mais conscientes.
Quem adoecer tem que chamar um médico a casa ou vai ao seu consultório, a quem tem que pagar a consulta e é tratado sempre por tu seja qual for a sua idade. Em caso de necessidade de internamento hospitalar, é necessário pagar uma caução de quinze dias depois de ser calculada a importância, após interrogatório onde se quer saber o ordenado do chefe de família, o agregado familiar, a renda de casa, etc.
Vamos comprar à mercearia um quilo de batatas ou uma posta de bacalhau demolhado ou uma quarta de manteiga ou duzentos gramas de açúcar, cem gramas de marmelada ou de banha. Ao leiteiro compramos um litro de leite que vem vender-nos à porta, às vezes acrescentado com urina que se diz não ser detectável nas análises da fiscalização que também é muito deficiente. Na padaria compramos um quilo de pão de segunda e voltamos para casa comendo o contrapeso pelo caminho. No talho compramos um naco de torresmos, duzentos gramas de carne para cozer que muitas vezes é pesada com a ajuda do dedo do talhante, um pouco de carne entremeada, um chouriço de carne, uma morcela, um pouco de toucinho e uma farinheira. No lugar da hortaliça a couve portuguesa, uma cabeça de nabos, dois tostões de cenouras e um raminho de salsa que a dona do lugar nos oferece e com aquilo que comprámos no talho ficam os ingredientes para o cozido à portuguesa que aqueles, um pouco mais afortunados, fazem para o almoço de domingo. Tudo é comprado em pequenas quantidades e quem ganha é o merceeiro ou o talhante porque tudo é embrulhado em papel, muito mais barato que o artigo que nele foi embrulhado e posto na balança, mas como a despesa é apontada no rol para ser paga quando for possível, as pessoas, reféns do favor feito, aceitam ser defraudadas ou nem sequer se apercebem disso. Na praça do peixe compramos um par de chicharros ou na lota estamos à espera que o pescador nos dê umas sardinhas que pomos dentro duma alcofa ou mesmo dentro da boina que tiramos da cabeça e ficamos a aguardar nova oferta até que julgamos suficiente para o almoço que será preparado em casa. Ainda temos as senhas de racionamento para os géneros de primeira necessidade como pão, azeite, manteiga, etc. Cozinhamos a petróleo ou a carvão que também são racionados e, do cisco do carvão, que aproveitamos para que nada se desperdice, misturado com greda que vamos apanhar ao campo e com a ajuda de água, fazemos a massa que dará aquilo a que chamamos bolas feitas com auxílio duma argola de ferro diâmetro + - 80 mm x 20mm, que é a forma que se enche e calca batendo com uma palmatória geralmente de ferro para que fiquem bem compactadas e servem, depois de secas geralmente ao sol, para pôr no fogareiro à volta do carvão e assim obtemos melhor calor para a confecção dos alimentos.
Também cozinhamos com fogareiros a serradura amassada com água e metida dentro duma lata vazia de cinco litros, à qual fizemos um furo lateral junto à base aí a dois dedos do fundo, com diâmetro mais ou menos trinta milímetros e enfiamos por aí um rolo de madeira que se irá encontrar com outro que é posto dentro da lata na vertical e ao centro da mesma e ambos se retiram quando a serradura, que tivemos o cuidado de calcar muito bem, está seca. Agora, temos o fogareiro pronto a ser aceso pelo furo transversal, que irá queimando lentamente a serradura de baixo para cima e irá servir durante grande parte do dia para cozinhar os alimentos e entretanto preparamos outro fogareiro para estar seco no dia seguinte.    
Muitas das nossas casas são iluminadas com candeeiros a petróleo.
Como não temos casa de banho equipada com banheira para o banho semanal, temos que nos lavar por partes: primeiro da cintura para cima, depois o resto do tronco e por fim os pés e pernas, muitas vezes com água fria, ou então, numa banheira geralmente redonda feita em chapa de zinco que foi colocada numa divisão da casa para aquela ocasião aquecendo a água dentro de panelas grandes. O banho é tomado à tardinha de sábado para os filhos da casa, que depois são metidos na cama e a mãe carinhosa lhes irá levar o jantar quando for hora.
Nas Associações Recreativas, formadas com o advento da República, se sente a repressão na organização de Bibliotecas, Grupos Cénicos e outras iniciativas culturais. Todas as publicações, tais como jornais, revistas ou livros e também todas as formas de teatro, são censuradas: logo se compreende as dificuldades que essas Associações encontram para levar por diante os seus objectivos que são a difusão da cultura. Com frequência acontece que as peças de teatro prontas a serem representadas e que previamente foram enviadas obrigatoriamente à Comissão de Censura para aprovação, serem devolvidas com palavras, frases ou parágrafos eliminados com o lápis azul da Censura ou pura e simplesmente com o carimbo vermelho de “Proibido pela Comissão de Censura”. As bibliotecas recebem com alguma frequência a visita dos “censores” que proíbem que tal ou tal livro esteja em exibição, tendo que se reservar uma estante ou parte dela onde esses livros estão encerrados de modo inviolável com o indicativo da “Comissão de Censura”, ou são levados e deixamos de saber o seu paradeiro.
Mas há também quem não aceite tal estado de coisas. O movimento grevista surge nas grandes empresas tais como Companhia Carris de Ferro de Lisboa ou Companhia União Fabril. Também as varinas em Lisboa organizam uma grande manifestação de protesto contra o regime. Nos campos também se sente a revolta social com grandes movimentações reivindicando o fim do trabalho de sol a sol e por melhores salários. A repressão é violenta. Muitos trabalhadores são presos e aqueles considerados lideres, proibidos de voltar aos seus empregos ou são deportados para o Campo de Concentração do Tarrafal em Cabo Verde onde já estão outros antifascistas na sua maioria comunistas e os revoltosos marinheiros dos navios de guerra Dão, Bartolomeu Dias e Afonso de Albuquerque num total de 60, de entre os quais o Joaquim Casquinha filho de Paço de Arcos.

                                                                      João do Carmo

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

EQUIPA DE HÓQUEI EM PATINS
Trata-se da equipa júnior do então PAÇO DE ARCOS HÓQUEI CLUBE ( actual Clube Desportivo de Paço de Arcos) no ano de 1941.
Em cima: Rui Lince, Horácio Matias e Mário Dias
Em baixo: António do Carmo e João do Carmo
Esta equipa foi campeã no 1º Campeonato de Júniores de Lisboa em 1942
- Por curiosidade, acrescento que eu fui o jogador mais novo inscrito na Federação Portuguesa de Patinagem
com 13 anos de idade.

sábado, 9 de julho de 2011

CORRUPÇÃO

         QUEM SERÁ?

Alguém mora ali ao lado
Só que não sei quem ele é
Não deve ser um coitado
Não deve ser qualquer Zé

É burguês na minha ideia
Pelo seu porte elevado
Toda a gente o lisonjeia
Alguém mora ali ao lado

Será alguém importante
Vem de carro não anda a pé
É vaidoso este pedante
Só que não sei quem ele é

Não sei se tem a mania
Ou se já foi deputado
Só uma coisa diria
Não deve ser um coitado

Estou ficando intrigado
Não me inspira muita fé
Dorme mesmo ali ao lado
Não deve ser qualquer Zé
                                     
              (Maio 2007)
                               
         JÁ SEI!

Eu já sei quem ali mora
Já o vi na Televisão
Não perdeu pela demora
Envolto em corrupção

E o que diz a justiça
É que está indiciado
A ganância enfeitiça
E cada qual tem seu fado

Para que serve afinal
A importância balofa?
Vai parar ao tribunal
E perderá a cama fofa?

Fez um curso superior
E é formado em direito
É tratado por doutor
Mas é doutor por defeito

Muito deve ter vivido
Este senhor tão vaidoso
Devia ser comedido
Não devia ser guloso

            (Dezembro 2009)

SER CRIANÇA

                                SER CRIANÇA           
                                                                             
Do meu tempo de rapaz  
Ficou-me cá na lembrança
Aquilo que a gente faz
Na idade de ser criança

Da casa ao pé da praia
Dos banhos de mar e de sol
Da malta da minha laia
Dos jogos de futebol

Dos meus amigos da escola
Em primeiro o professor
Da cartilha e da sacola
Do quadro e apagador
        
Desde as maldades que fiz
Das reguadas que apanhei
Dos desenhos feitos com giz
Daquilo com que sonhei

Na rua joguei a malha
O berlinde o trinta e um
Corridas com a maralha
O alho e o lá vai um

O paunique e o botão
Brincadeiras engraçadas
O arco até o pião
Mais aquelas inventadas
                                                   (16/7/07)
                                               João do Carmo

domingo, 19 de junho de 2011

SER ARTISTA

                  SER ARTISTA


Se eu um dia fosse artista
Pintava tudo a rigor
Para que ninguém desista
Da Liberdade e do Amor

Pintava a tenacidade
E o aprumo do proletário
Que na clandestinidade
Quis um mundo solidário

Pintava com todo o gosto
Mesmo não sendo pintor
A alegria do teu rosto
Vermelho é a nossa cor

Pintaria a Igualdade
No vermelho como fundo
Que será a realidade
Um dia em todo o mundo

Não desistas camarada
Há-de vir a felicidade
Que pintarei a vermelho
Com o pincel da Liberdade

Companheiro vem lutar
Não queiras a escravatura
Mesmo sem saber pintar
Vou pôr-te na quadratura


                                     João do Carmo
                                      Mai. 2009

sábado, 14 de maio de 2011

TEMPO

O TEMPO

Fiquei a olhar para o tempo
Deixei o tempo passar
E por fim não tive tempo
Nem mesmo para te olhar

Não importa quanto tempo
Já passou sem reparar
Só importa quanto tempo
Me resta para te amar

Ao tempo nada se nega
Tudo leva num repente
Ficando a vontade cega
De te ver constantemente

João do Carmo
Jan. 2011

domingo, 1 de maio de 2011

Outra forma de LER

LEIO

Leio um livro um jornal uma revista
O Nónio para uma medida de precisão
Um quadro ou a escultura dum artista
Um recado deixado pelo alquimista
A força a altura a espessura ou a pressão

Leio o que escrevo ou uma fotografia
A mensagem do tempo constante
A carta dum amigo escrita com simpatia
O tempo que vai passando dia a dia
A bússola o astrolábio ou o sextante

Leio o prazo que me resta desta vida
A vida que tive por vezes dura
Tudo com a pressa de quem lida
A batalha que não foi perdida
Um mapa um esquema uma escritura

Leio a luta dos clandestinos dia-a-dia
Abril depois da ditadura
O quanto a ditadura doía
A certeza na vitória que viria
O bem que a Democracia augura

                              João do Carmo

Coimbra

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O PÉ

 O PÉ

O pé é uma das partes em que se dividem os membros inferiores do ser humano ou posteriores dos outros animais a que se chama também pata ou chispe.
Também pode ser uma unidade de comprimento, uma haste, um tronco, uma raiz ou mesmo uma planta completa.
Ter pé, é ter motivo ou razão para qualquer coisa. Também na praia se tem ou perde o pé.
Há quem aprecie um bom pé de dança. Há quem tenha jeito para pé de alferes, quem tenha pé-de-chumbo, quem tenha o pé boto, pé chato ou pé de atleta. Há quem ande a pé, quem ande ao pé-coxinho, ande pé-ante-pé, em pezinhos de lã, de pé-descalço, de pé ligeiro, quem só entre em qualquer lado sempre com o pé direito, quem não arrede pé, quem esteja de pé atrás, jure a pés juntos, negue a pé firme, meta o pé na poça, meta o pé na argola, meta os pés pelas mãos, e até há quem dê tiros no pé. Há quem faça finca-pé, quem faça caretas ao encontrar pé num copo de vinho, quem beba vinho só em copos de pé alto e quem tenha pé de galinha nos cantos dos olhos. Há quem marche no estilo de pé de ganso, quem não caiba numa casa de baixo pé-direito, quem use o pé-de-cabra, quem resolva os problemas do pé para a mão, quem aguente um verdadeiro pé-de-água, quem faça um pé-de-vento por tudo e por nada, quem tenha um bom pé-de-meia e quem goste de beber água-pé pelo S. Martinho. Também há o pé-de-salsa e os bons apreciadores de pezinhos de coentrada.
E o que temos de mais certo, é um dia encontrarmo-nos todos no jardim dos pés juntos.
                                                                                                                                          João do Carmo
                                                                                                                                            01/10/2010

quarta-feira, 16 de março de 2011

SABER TÃO POUCO

SABER TÃO POUCO

Com a vida aprendi todo o meu saber
E achando que era ainda muito pouco
Resolvi que tudo tinha que aprender
Precisei de muito mais tempo para viver
De tanto aprender quase dei em louco

Passei a ler todos os livros e jornais
Ler quanto a biblioteca tinha na estante
Convivi com sábios e outros que tais
Aprendi muito, muito mais
Na ânsia de deixar de ser ignorante

Mas de quantas vidas tive necessidade
Aplicando-me de alma e coração ao estudo
Consultei séculos de vida em sociedade
Aprendi com toda a humanidade
E conclui: só todos juntos saberemos tudo
                                                                         
João do Carmo
Jan. 2011

domingo, 13 de março de 2011

PROFISSIONAIS DA RTP

                                                  PROFISSIONAIS DA RTP

São todos profissionais
Da Rádio Televisão
Enviados Especiais
De microfone na mão

          JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS
Há o Zé que é dos Santos
E é escritor o pimpolho
Dá as notícias como tantos
Mas com tremuras no olho

          PAULO DENTINHO
E o Paulo que é Dentinho
Merece o nosso respeito
Fala com muito jeitinho
Tudo o que faz é bem feito

          PAULO CATARRO
O Catarro que é da bola
Sabedor e imparcial
Agora está em Angola
Que terá feito de mal?

          ROSA VELOSO
A Rosa também Veloso
Está em Espanha e fala bem
Fez ver ao Rodrigues teimoso
Que com padrinhos, tudo bem

          CECÍLIA CARMO
A Cecília desabafou
De desporto é sabedora
Mas alguém a castigou!
Será por ser uma Senhora?

          LUIS BAILA
E o Luís tão competente
Alguém o mandou bailar
Abanando o capacete
Mais ninguém o vai parar

          JÚLIO ISIDRO
O Isidro é bom rapaz
Sempre vestido a primor
É rigoroso no que faz!
Terá costela de Doutor?

Gosta muito de aviões
Mas em ponto pequenino
Só lhe faltam os calções
Para ser sempre menino


          NOÉ MONTEIRO
O Noé não tem pecados
Já não é o marinheiro
Deixou a barca dos salvados
E lá ficou pelo estrangeiro

          RITA MARRAFA de CARVALHO
Pelos cotovelos, fala a Rita
Também se chama Marrafa
É simpática e catita
A falar para a “garrafa”

          Teresa Nicolau
A Teresa foi ao Cinema
E ao fazer a reportagem
Logo arranjou um dilema
Ao tropeçar na ramagem

Estava escondida e saiu
Perguntando: posso entrar?
Ia caindo mas não caiu:
Foi ela que quis brincar!

          João Fernando Ramos
Muito simpático e eficaz
Apaixonado por ralis
Zeloso em tudo que faz
E senhor do seu nariz

O João Fernando Ramos
Sindicalista também
Todos nós o respeitamos
Pelo valor que já tem

          Carlos Fino
O Carlos Fino inteligente
Foi ao Iraque e voltou
E mostrou a toda a gente
O grande susto que apanhou

Desapareceu a seguir
Deve ter ido descansar
Sem de nós se despedir
Não lhe vamos perdoar

          Andreia Neves
Fala sempre a cem à hora
Ninguém a vê atrapalhada
Aparece e vai-se embora
Dizendo tudo de enfiada

Com os votos de muitas felicidades, dedico esta brincadeira aos novos e menos novos quadros da RTP.
Março 2010                                                                                João do Carmo

quarta-feira, 9 de março de 2011

ÀS VOLTAS COM O PÉ

ÀS VOLTAS COM O PÉ


Para lá, ao pé-coxinho
De volta, sempre a correr
Calcando o mesmo caminho
Duas vezes, amorzinho
Passei por ti sem te ver

Desculpa-me a distracção
Não fiques de pé atrás
Se me deres a tua mão
Baterá meu coração
E comigo casarás

Vou em pezinhos de lã
Serei tua companhia
Irei logo pela manhã
E se a vontade não for vã
Casaremos ao fim do dia

Entrarei com o pé direito
Para a sorte ser ditosa
Levo o amor no meu peito
E também com muito jeito
Levarei um pé de rosa

No dia do casamento
Faremos um pé de dança
Com tanto contentamento
Levanta-se um pé-de-vento
No auge de tal festança

A pé firme com certeza
Te juro fidelidade
Tu serás a minha alteza
Viveremos com nobreza
Até à eternidade

Estaremos lado a lado
Teremos um pé-de-meia
Serei sempre o namorado
E o teu príncipe encantado
Vivendo na mesma teia
                                           
João do Carmo
 30/11/2010


    

                                                                                                                              

domingo, 6 de março de 2011

O MEU GALHARDETE

O MEU GALHARDETE

Aprecio galhardetes. Sou mesmo um apaixonado por galhardetes. Dum modo geral, são muito requintados e cada qual representando ou querendo dizer qualquer coisa. Mais ou menos alongados; mais ou menos estreitos; ou compridos; há-os de muitas formas e em todos os estados de conservação. Farpeados no alto dos mastros dos navios para sinalização ou adorno. Rectangulares colocados em mastros mais ou menos aprimorados e as miniaturas assentes numa base dum modo geral redonda, ou triangulares isósceles cujo lado mais pequeno, previamente orlado, remata numa haste cromada, com um cordão cujas pontas foram atadas nos seus topos deixando folga suficiente para que por aí se possam pendurar, fazendo um desenho triangular oposto ao do galhardete que cai, com o vértice mais agudo, na perpendicular.
Há os que ocasionalmente enfeitam as festas populares, também triangulares isósceles e feitos de papel de diversas cores, pendurados em fila a extensos cordéis que por sua vez se colocam em altura atravessando ruas ou largos onde porventura se realizam os arraiais. Estes galhardetes, pela sua fragilidade, têm uma vida curta e por isso, quando daí a dias acaba a festa, deixam de ter serventia. No entanto, pelo seu cariz popular, têm o meu apreço especial. Estes galhardetes, dum modo geral feitos pelos moradores da zona onde se organiza a festa, querem dizer com isso que os estão oferecendo ao seu semelhante só pelo prazer da boa convivência.    
Tenho visto galhardetes em museus, alguns já muito desgastados, lembrando batalhas travadas em tempos. Vejo-os guardados em casa dos seus proprietários que os ganharam com talento. Estes galhardetes são confeccionados em casas especializadas e por isso ficam ali muito bem, guardados em vitrinas quase sempre de muito bom gosto.
Há também galhardetes feitos não se sabe bem onde, baratos, de fraca confecção e muito procurados por pessoas que os usam depois para troca, por falta de arte para os ganharem por mérito e lá vão ufanos colocar nas suas vitrinas as trocas recebidas. Não é preciso ser muito entendido em galhardetes para se notar de imediato que estes são contrafeitos. Quando a troca é feita entre pessoas zangadas, os galhardetes nem chegam a ser colocados nas vitrinas, pois com a ira com que são trocados ficam num tal estado, que já nada se aproveita. Quando a troca é feita entre amigos e se for pela posse num lugar de destaque que dê um bom ordenado mais reforma ao fim de pouco tempo e outras alcavalas, então é que é vê-los apressados a colocar os galhardetes nas suas vitrinas. Só que estes galhardetes, dada a sua fraca qualidade, não se podem guardar em vitrinas por muito tempo porque se esfumam e os seus proprietários também um dia irão fazer-lhes companhia não deixando saudades a ninguém.
Eu também tenho um galhardete. Só que não é dos que se penduram num mastro, não fica bem numa base, nem é daqueles em forma de triângulo que se penduram por um cordão. Também não é como aqueles que se colocam no alto dos mastros dos navios nem dos que servem para enfeitar os arraiais. E de certeza também não irá fazer parte duma colecção de museu. Esse galhardete foi-me oferecido um dia, em Abril.
João do Carmo
12/7/2010

TRIÂNGULO

São três pontos desalinhados
Três traços para os unirem
São três vértices e três lados
Que estando desencontrados
Se amparam para não caírem

Rectângulo, isósceles ou escaleno
É sempre triângulo o coitado
Seja grande ou mais pequeno
Respeita a regra em pleno
Nem que seja atarracado

Pitágoras não quis temores
E para não haver desordem
Pensando como os doutores
Todos diferentes sim senhores
Mas quero tudo isto em ordem!

Se o Teorema é ditadura
E o rectângulo o mais falado
Os noventa graus em altura
Não deixam a criatura
Um momento sossegado

Três, quatro, cinco, são lei
Que Pitágoras descobriu
Usada por toda a grei
Nunca na vida encontrei
Coisa melhor que já se viu

Quatro vezes quatro são dezasseis
E se três vezes três são nove
Aplicai a regra como deveis
Que não vos arrependereis
Nem o triângulo se comove

Cinco vezes cinco são vinte e cinco
Dezasseis mais nove também
Pitágoras diz com afinco
Com a matemática não brinco
Nem deve brincar ninguém

  João do Carmo
Fev. 2011

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

DIVAGANDO

Ler
Para quem aprendeu, o acto de ler é intuitivo.
Leio tudo o que está à minha volta.
São os nomes das ruas, dos estabelecimentos, as asneiras escritas nas paredes, o destino dos transportes, os preços dos artigos nas feiras, as ementas dos tascos e restaurantes, as letras garrafais dos jornais, os nomes das povoações, os nomes dos desportistas nas camisolas dos seus equipamentos, leio a alegria e leio a tristeza no semblante das pessoas.
Leio um livro, um jornal ou uma revista, um texto e nas entrelinhas, um recado ou uma mensagem.
Leio o peso, o volume, a quantidade, a força, a altura, a espessura ou a pressão, um desenho ou um esquema, um mapa, um gráfico, uma escala musical, um gesto, leio Morse, leio Braille e leio o Nónio para uma medida de precisão. Leio os sinais de trânsito e navegação, a bússola, o astrolábio ou o sextante. Leio a minha vez numa fila de atendimento e o meu lugar numa sala de espectáculos. Leio uma fotografia, uma escritura, as cores e o que escrevo. Leio a sina, mesmo precisando de traquejo.
Leio em silêncio, em surdina, em voz alta ou cantando. Lendo em silêncio, não se nota o que estou fazendo. Lendo em surdina, quererão ouvir e farão questão que leia mais alto. Se leio em vos alta e estou só, quem ocasionalmente me ouça irá dizer que não estou bem de saúde e se leio cantando, tenho que reunir determinados requisitos de ordem musical para que tenha audiência.
Enfim: uma azáfama constante, podendo passar todos os dias pelos meus olhos umas centenas largas de sinais que se lêem e que, curiosamente, não me cansa.
No fim de contas, quase tudo, ou até mesmo tudo, pode ser lido.
O ler é tão importante, que até se percebeu a necessidade de se criarem escolas onde isso se aprende, com auxílio de mestres preparados e com vocação para tal.
                                                                                                                                                                   
                                                                                                                                                                   João do Carmo